domingo, 30 de outubro de 2011

O Circo

Respeitável público
A magia é feita de carne, osso e suor.
Da alegria itinerante que jornadeia de lugar para lugar
Onde houver um terreno baldio onde caiba a lona infinita do picadeiro
Artistas arriscarão suas almas em troca de verdades
Em meio a todas aquelas cores decadentes das luzes, das tintas das maquiagens, das roupas de figurino, terás de contraste o pé sujo da mulher mais bela, a dor sincera do animal domador e a falta de graça do palhaço cansado.
Um bom circo é feito de humanidade, de lona velha com cara de nova de tão bonita,tão cuidada, de cordas seguras que deixam o charme da dúvida ao parecerem não mais suportar, de luzes tristes felizes, de corpos definidos definhando, um bom circo é feito da dor.
A lágrima só não entra no circo durante o espetáculo, durante pouco mais de 1 hora em que é proibido viver nesse mundo hostil podemos ter a certeza da ilusão de que se cairmos seremos amparados por aquela enorme cama elástica cor de nada. Essa 1 hora em que o macaco anda de bicicleta, a pomba branca voa da cartola, o elefante pisa a bola, o engolidor engole as espadas, o malabarista sai do sinal, o circo sai de órbita e essa 1 hora faz a vida ter valido a pena.
Todos temos o circo dentro da gente, temos muitas vezes de domar nossas feras, fazer malabarismos para se sentir feliz, mágica para ter esperança, temos muitas vezes que ser o HOMEM MAIS FORTE DO MUNDO ou a MULHER BARBADA e como trapezistas se lançar no vazio do desconhecido, muitas vezes pintamos a cara de palhaço e rimos das próprias aberrações, tantas outras na corda bamba nos embebedamos de prazer fugaz, contorcendo nossos corpos para podermos caber em nós, aprendendo a viver nesse globo da morte. Todos somos circo.
Somos essa mazela mambembe cheia de vida e poesia que só precisa de alguém para ver.
Somos circo na estrada, somos a busca do riso e do aplauso, somos o circo de horrores em busca de amor.






domingo, 16 de outubro de 2011

Dia Feliz

Doce o fim de um dia feliz
Sorrir até pegar no sono
Esse mundo tem jeito.


sábado, 15 de outubro de 2011

Gosto de mim

Aqui, no meu quarto de escrever
Ouvir música parece reza
Me curo e me purifico, só por achar isso aqui bonito
Jogar flores ao vento
Das tormentas aí de fora
Do escárnio existencial
Da auto negociação
Que pressão é essa que sufoca? Que comprime pra baixo
Que cansaço é esse que faz eu me arrastar até o trabalho sem poder dançar a valsa das manhãs?
Perder meus poderes de ser reticente misterioso no branco dos meus temores
Inspira-me ó meu quarto de escrever, o que houver de mais singelo
Mas não me deixe parecer vazio
Aceito ar
Pra plagiar a chuva
Tento tanto
Parece fácil crescer e é, o difícil é provar para os outros que você está aqui, você precisa ser além de si para te verem.
Tem gente que já encontrou a fórmula
Da beleza e do dinheiro
Eu não
Provavelmente sou uma interrogação pra você
Você não me vê nitidamente, o meu embaçado entre libido e desespero
Achas que sou capaz de usar chinelo em um pé e botas em outro?
Já que meu cabelo não é nem grande nem curto
Fico nem bonito nem feio
Sou na média, um café com leite e um pão com manteiga na chapa
Vira lata
Cavaleiro andante
Já deslizei nas suas lágrimas e sei que a música silenciou ali
Quando me deparei com todo o resto e me senti engolir, um espelho se posicionou a minha frente me mostrando meus dentes amarelados e minha falta de ressonância
Aí fico oco, opaco e a deriva
Falando esse nada com nada e te obrigando a gostar
Porque no fundo eu sou legal e você sabe disso
Sou descolado, tá ligado?
Um fracasso que deu certo
Incipidamente feliz
Espero que você goste de você como eu gosto de mim.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Sozinho

Já somos quase 7 bilhões de sozinhos
Eu aqui e você aí, no espaço
Eu escrevendo e, eu ia dizer você, mas sou eu quem lê, leio
Eu escrevendo e eu lendo
Indo de mau a pior com a sensação de que ta tudo bem
Amanhã vou acordar cedo
Mas só posso saber isso amanhã
Se eu falhar, vou me achar inútil, perdendo oportunidades, pobre
Vou dormir sozinho para acordar sozinho para ficar comigo
E se na manhã do amanhã acordar não só, terei a certeza de que não sou mais isso
Acordar quem sabe sendo dois ou três ou sete bilhões tudo em nós
Isso que pulsa calado perambulando pela cidade perambularia junto
Isso que tem prazer sozinho, que come sozinho, que conversa com você sozinho, que ama você sozinho e que está indo dormir para acordar cedo.