quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Sertão d´água

No mais profundo sertão
O mais profundo dos rios
Entre a primeira e a segunda
Corria a terceira margem do rio

Tá no coração.
Como pode um sertão ser tão rio?

Mãe

-Dorme com Deus meu filho.

Pai

-Pai, paiê, acorda pai!
-Quem é que tá aí?
-Sou eu pai, seu filho
-Meu?
-É pai, seu.


Relutar

Acabei de acordar
Mas eu não estava dormindo
Foi uma nova consciência que nasceu
Como um rio que, por querer, começa a gotejar.
Comecei a sorrir
Mas eu não estava triste
Foi um peso diferente que me obriguei a carregar, a descarregar
Acabei de acordar e comecei a sorrir
Porque o sol da liberdade já me raiou
Incandeceu minha luz
Me infinitou vida.
Aprendi a andar
Não que eu só estivesse sonhando,
Agora marcho os golpes do meu destemido destino ser
Mas acima das pernas ainda asas
Relutar não é fraquejo, é lutar duas vezes.






quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Porra

Quando vou exteriorizando
E vai ganhando forma
Clareia um clarão meu vingando o ar
Assassinando o silêncio mesquinho do ócio
Me sufoca alguma arte tentando escapar
Vai tomar no cu da solidão
O Porra é expressão do alto calão de Deus
Sofisticando o mundo das perfeições inalteráveis
Balbuciando sons imateriais
Grito em louvor estar quase vivo
Por conseguir quase amar.




Aquele Homem

Na beira de um rio imenso,
Com o chapéu na mão,
Montando o cavalo mais destemido
Aquele homem me espera.
Me contando estórias da terra
E sussurando suas canções no violão
Aquele homem parece quase tudo saber
E me disse que vai estar onde eu for.
Eu posso sentir seu coração,
Ao seguir seus passos sem me preocupar,
Pela estrada de sol que eu nunca vi.
Protegido apenas pelas próprias mãos,
Indo embora para eu chegar
Aquele homem que me espera sou eu.




sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Esmola

Esmolando um afeto
Pra fazer um turbante quente
Que me proteja do frio da solidão.
Proteção provoca
Soberba
Se você pudesse me ver agora você iria ver
O quanto você ia querer me dar esmola a noite inteira.


quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Choro riso

Meu só amor próprio é impróprio
Dilacero eu nas vidas que vou dilacerando
Pelo amor que nunca dei não posso esperar receber
No meu jardim só de adubo regado com meias águas.
Acho que sou feliz dormindo
No repouso enamorado da morada dos anjos,
Minha beleza consiste em não ser feio
Minha sinceridade é olhar com olhos de quem também não sei
Não sei também se sou salvador
Merecedor São
Não sei a que arte me crio
Não tenho o crivo de nada
Eu não lembro das minhas outras vidas e onde foi que a gente se amou
Mas deve ter se amado em alguma cama ou pedaço de jornal
Eu vou parar de implicar comigo
Comigo mesmo é que vou ficar
tempo ao templo
Me perseverar
Não vou crucificar meu Jesus
Tem uma angústia que reverbera pelo simples fato de eu não pensar
É quando vou me entregando assim tipo brinde de recordação
Porque eu não sei ser o suficiente
Ou me subestimo ou super me valorizo
Essa medida me falta para uma explosão que nascerá um infinito interno
Sou de ouro no lixo
e levo esse ranço de fortuna fedida.
Meu banho será profético e se anunciará aos quatro cantos no correr do vento
Da terra que me foi prometida e da Terra que me foi dada não havia de haver diferença
A diferença é que Godot ainda não veio
E vamos esperá-lo para o jantar.
Me alivia pôr uma aureola
É isso que eu chamo de paz
Pode contar comigo pra guarda do Rei
E pra ficar acordado até você dormir
Pode cantar comigo, pra mim que eu gosto
Aí depois eu canto o encanto que viajei
Se você fizer questão de saber tudo de mim vai saber que o que sou, sou só isso que sou agora. O que fui, fui, foi. Esvaiu-se.
Posso te contar como fiquei mais vaidoso. Foi assim: Eu era pequeno e fui crescendo e fui descobrindo que eu sou capaz e comecei e me dar mais bola e a fazer mais gol e quanto mais gol eu fazia mais eu me dava bola porque eu saberia fazer o gol. E assim fiquei orgulhoso de mim mesmo e me dei um troféu.
Posso te contar como eu fiquei inseguro. Foi assim: Eu era grande, muito grande e um belo dia você chegou pra mim e falou que eu não era, eu respondi e você me deu as costas e eu fiquei sem saber se eu tinha ganhado ou se tinha perdido e essa dúvida começou a me corroer. Não que eu não saiba perder, é que eu não sei não saber.
Por isso um olho meu é triste e o outro brilha feito o sol
Porque não sei escolher entre o dia e a noite. Vou preferir ficar sem nenhum e ambos magoados me acharão imbecil.
Não sei nada do choro nem do riso
Se a lágrima salga minha pele para o jantar da morte
Em marcha fúnebre canções de amor.