terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Ervilhas

Certa noite quando comia suas ervilhas com farinha um homem se sentia em adultério com tudo aquilo que acreditava.
Sua natureza parecia duvidar de si ao exalar o que parecia ser o último brilho em seus olhos, mastigava o gosto do nada em que se encontrava esperando o juramento que fizera a si de ser feliz.
Agora era um bicho que tinha que matar para sobreviver pois vivia entre infiéis amantes da luxúria e já não fazia mais sentido mofar ali no paraíso, sua única dádiva era saber mentir e assim atraia as presas que o atraiam, se tornando preso da presa por sua escravidão afetiva.
Quando respirar dói, já tanto faz se é quente ou frio, o corpo apodrece e o cheiro se confunde com a falta de vontade. E 6 meses ou 6 anos depois um homem comia ervilhas com farinha e se sentia enfeitiçado pelo tempo, olhava para trás e via os traumas das escolhas que não teve, do tempo que era uma criança cega e não era justo, ter credores ameaçando sua honra na frente de sua mulher, como pode esse homem se adeitar? Não pode, e faz 3 noites que soluça um gosto de sangue num vermelho infernal, só pode fechar os olhos e arder.
Nesse momento em que uma barata passa pelo canto da cama o homem que mastiga ervilhas é mastigado pelo desespero do meio, aquele que vem antes do fim e nunca se sabe quando vai envelhecer. O meio é o presente da loucura para os anjos que nascem, é um doce confeitado de veneno que é posto logo na primeira mamadeira. Deleitamos-no.
E um belo dia quando esse homem que nasceu for dormir depois de uma noite bem feliz em que foi reconhecido um grande cidadão pelo conjunto da sua integridade, profissionalismo e responsabilidade social, pode ser que esse homem sonhe com um suculento prato de ervilhas e como que transportado de volta para aquela cama com duas antenas de barata se mechendo, se prenda lá por mais 6 meses ou 6 anos e se sinta novamente em adulterio com suas próprias repetições, seus truques, seus meios de tentar dizer que um dia deu certo.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Eu nasci adulto

Eu nasci adulto.
E me soltaram aqui
Quando vi já era hoje
Quando vi que nada vi.
Eu nasci marcado de um passado que não me lembro
E por isso não tenho tempo
Tento fugir mas tenho fome
Tenho também ciúmes e vontade de chor... sou forte.
Reconheço-me em qualquer fotografia que não estou
Abraço nenhuma causa.
Vou, chego, dou bom dia e tento ser educado
Mas vocês nem olham seus umbigueiros filhos da mãe.
Não quero mais conversar com você nem com ninguém.
Agora quando eu quiser vou desfilar ao invés de caminhar
Vou ser nojento ao ponto de te fazer querer morrer, só por segurança
Vou ser um louco em pele de coveiro
E vou te enterrar sempre que possivel
Vai me ver de baixo; deitado e ferido
E eu sorrindo, bem vestido e bem acompanhado, abençoado por mim e sorrindo.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Totalmente sem necessidade de existir

Estou cansado.
De machucar as pessoas, de ouvir música, de beber água, de me sentir assim.
Cansei do fogo que é arder nesse mar de frustrações, cansei de ser sem voz, cansei.
Cansei de tentar, de chorar por dentro e por fora estar tudo aparentemente bem.
O que é o amor?
Preciso dormir e não escrever, estou tão triste comigo.
O que é?
O amor é um desgaste enebriado.
Fala por falar, melhor não.