sábado, 3 de dezembro de 2016

Utópicas Utopias

De onde nasce a arte? Qual a fonte que traz à tona uma AÇAO ESPECIFICA num mar infinito de possibilidades? Por que aquele gesto? Por que aquela sensação reverberou naquele momento? O que faz um instante ser lembrado? Todo sorriso é felicidade? Toda arte é um palco, todo artista é um ator, que se expressará através daquele palco e um dia passará. Sua arte fica, já não lhe pertence mais, o artista é um meio, um fio de conexão entre o divino e o mundano, entre o passado e o futuro, entre a verdade e a mentira, entre a vida e a própria vida, o melhor e o pior de tudo que se possa imaginar encontraremos no sincero artista, sua luz e sua sombra caminham juntas, sublime grotesco.
Por isso os grandes artistas são profetas loucos e também silenciosas divindades que despertam o amor, o que é amar se não estar louco?
E qual o poder da arte? Até onde vai sua influencia no comportamento do individuo? Há quem diga que Shakespeare reinventou todos os aspectos humanos, os arquétipos Shakespereanos do amor puro e inconsequente que levaram Julieta e Romeu ao encontro da morte; a relação de poder entre o povo e o Rei (o Estado), a relação de ambição que leva um homem a roubar e matar seus familiares pelo poder em Ricardo III, o vilão dos vilões; a usurpação do homem pelo homem, a relação profana dos representantes religiosos; a cobiça; as traições; os amigos fiéis de caráter inabaláveis; a família; as tradições; a propriedade privada; os ricos e os pobres; a fome e a guerra; a peste; a vingança; a gloria; a morte, os artistas e o grande teatro que é o mundo. Da mitologia ancestral de todos os povos, só fica no TEMPO o quem tem força, para além do bem e do mal.
Platão, Aristóteles, Eurípedes, Homero, Beethoven, Van Gogh, Nijinsky, Stanislawsky, Dalí, Frida, Cleópatra, Aleijadinho, Artaud, Godard, Dostoievski, Pelé, Jobim, Chopin, Schopenhauer, Rei Arthur, Fidel, Rosa Luxemburgo, Joana D´arc, Hendrix, Jim, Jannis, Lennon, Kardec, Sidarta, Jesus, Confúcio, Bruce Lee, Michael, Kubrick, Pirandello, Kurosawa, Niestzche, Chaplin, Caetano, Elvis, Raul, Barichinikov, Jung, Marx, Pollock, Cobain, Simone, Marley, a injustiça e a impossibilidade de não esquecer outros tantos, e claro eu e talvez você.
Cazuza morreu, Agenor, seu nome. O homem que pagava contas, que enfrentava a fila do mercado, que acordava no meio da noite com dor de barriga, esse morreu. Cazuza não! Dispara contra o sol , é forte , é por acaso! Agenor quer uma ideologia pra viver, cazuza canta! Agenor, aquele garoto que ia mudar o mundo, agora assiste a tudo calado em cima do muro, cazuza só canta, dança, berra. EXAGERADO! FAZ PARTE DO SHOW! POIS O TEMPO NAO PARA!
Seu quase xará Angenor de Oliveira, CARTOLA. Homem analfabeto, só sabia escrever com cordas de violão, morreu. Analfabeto aos olhos dos letrados, dos importantes, Analfabeto escreveu com a voz: O mundo é um moinho, vai triturar teus sonhos tão mesquinhos, vai reduzir as ilusões à pó... demorei para aceitar esses versos, para engolir esses versos, e ainda não sou capaz de digerir a dor desses versos, mas sei que pro autor destes versos, doeu antes, doeu primeiro, doeu essencial! E sei que sua dor criadora e pregressa de alguma maneira dissolve a minha.
Queria falar de outros que também fazem parte de mim, do meu olhar Garcia Marques e do meu andar Arlequim, da minha sujeira em Beckett, da minha tristeza em Amy Whinehouse, do meu fogo Bukowski, da minha loucura Ionesca, da minha tragédia Fellini, mas não vai dar, eu sei que não vai dar, vai ser impossível narrar a mim mesmo, então só me resta ser. Minha utopia é nunca viver sem mim, nem por um segundo.
Eu, socialista, humanista e as vezes egoísta, gostaria de que todos os seres da natureza vivessem em alguma espécie de harmonia e felicidade, em paz e que todas as relações fossem de troca, com respeito, arte e boas intenções, gostaria de ser lembrado assim, e troco meu esquecimento total por sentir essa sensação de mundo. Quero ser esquecido por todos e também por mim, quero o silencio absoluto. O Tudo é nada. É impossível ou improvável?

Quero que o Apocalipse seja um Deus bondoso e que venha logo,  que nos permita regenerar e elevar a existência, que todas as dores sejam de mentira como no teatro e que todas as felicidades sejam de verdade como no teatro.

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